O
sol estava brilhando intensamente em um belíssimo céu azul sem nuvens. Era de
manhã e o calor estava intenso
Eu
estava passeando numa rua onde havia muitas lojas, e, portanto o comércio era
abundante. Parei pra olhar algumas, simplesmente para passar o tempo, até que
vejo uma lojinha que vendia antiguidades de todo o tipo; espadas, porcelanas, joias, documentos... Entrei na loja procurando algo que eu achasse
interessante, por puro acaso. Era a primeira vez que estava nessa cidade, então
tratei de conhecer logo todos os lugares possíveis. A loja era grande, com três
andares. E cada andar, estava repleto de estantes e prateleiras. Eu vejo o
vendedor da loja, um senhor gordo, de barba escura, com cara de bravo, mas
ainda sim, com um jeito super gentil, e então eu pergunto:
_
Senhor, há livros antigos nessa loja?
_Sim,
meu jovem _ Disse-me ele, mostrando um convidativo sorriso, cheio de dentes
brancos _ no segundo andar. Por favor, me acompanhe.
Fomos
até as escadas no fim do cômodo, subimos, e ele me mostrou onde fica a seção de
livros
_O
que mais deseja?_ indagou com seu jeito simpático de ser.
_Nada,
só isso mesmo. Obrigado _ respondi, de bom humor. Mas que alegria contagiante a
desse homem!
_Então
tudo bem. Vou voltar lá pra baixo. Caso queira algo mais, não hesite em me
chamar
Ele
se foi, e fui deixado à vontade. E fiquei lá durante horas! Como amante dos
livros que sou, senti-me como em um parque de diversões, com todo aquele
acervo.
Segui
pelas prateleiras empoeiradas, olhando cada livro, tirando o pó deles,
apreciando as capas, ate que pego um com um símbolo de lobo, e em baixo do
símbolo estava escrito LOBISOMEM.
Então
peguei o livro, que por sinal estava cheio de poeira. Era um volume muito
grande e pesado, grosso, e de capa dura. Fui caminhando pelo imenso até
encontrar um lugar para ler o livro. Deparo-me com algumas poltronas
acolchoadas, e boa iluminação. Perfeito! Um lugar perfeitamente adaptado para o
caso de alguém ler por lá! Que loja maravilhosa!
Quando
começo a folhear as páginas, observo os desenhos estranhos de lobos, e de
alguns humanos também. Os textos estavam em outra língua que não sei dizer como
era. Os caracteres eram de um idioma que nunca vi antes*. Não entendi nada do
que estava escrito, mas as figuras eram bem interessantes. Conforme fui folheando
o livro, os caracteres pareciam saltar à minha vista. E estavam realmente
saltando aos meus olhos! Mais que isso, eles estavam rodopiando ao meu redor!
Então
o inexplicável acontece: o clima na sala começa a mudar. Começa a soprar uma
brisa leve, como se eu estivesse do lado de fora. Minha cabeça começa a rodar,
e do nada, quando tudo para de rodar, percebo que estou em outro lugar. Como
diabos eu fui parar ali? E onde estava o livro?
Eu
estava numa estrada fora da cidade onde eu estava anteriormente. Essa estrada
se bifurcava em duas. Uma levava pra cidade e a outra ia pra uma floresta,
então fui pra floresta e pelo jeito ainda era de manha.
Conforme
vou adentrando pela floresta, percebo que a claridade vai diminuindo, de tão
espessa que é a vegetação. Foi aí que pensei: que merda que eu fiz? Resolvo
voltar, mas daí eu percebo que perdi a trilha! E outra: a floresta já é escura.
Então percebo que as sombras estão aumentando. Ou seja, está anoitecendo.
Ah
ótimo! Estou perdido, e ainda percebo que está ficando de noite. É quando ouço
a vegetação se movendo atrás de mim. Eu me viro num sobressalto, e vejo um
vulto passar pelas sombras, e depois escuto um uivo. Certamente era um lobo me
caçando. Ainda tive um vislumbre de dois pontos amarelados por entre as sombras.
Não pensei duas vezes e comecei a correr instintivamente a esmo pela floresta, esbarrando
em uma árvore a cada passo, de tão densa que era a floresta. Só paro quando
vejo que não tinha mais nenhum sinal da coisa que estava me seguindo.
Ofegante, me apoio numa arvore. Mas ainda
sinto que estou sendo observado. Viro-me pra trás e vejo um vulto de uma pessoa
parada. Não sei por que raios eu fui até essa pessoa. Acho que talvez eu tenha
tido alguma esperança dessa “pessoa” me tirar daqui. E quando chego perto essa
pessoa começou a me dizer:
_Você
até que corre depressa.
Essa
voz não parecia amistosa. Parecia como se ele estivesse me dando uma bronca.
_O
que acha que está fazendo aqui? _Continuou ele, elevando a voz_ Como ousa invadir
meu território de caça, e perturbar minha paz?!
Estava
muito escuro. Não vi o rosto desse homem, nem sabia o que estava ele vestindo.
_Eerr...
_balbucio. Nessa altura eu já estava quase molhando minhas calças _ Me desculpe
senhor, se me der licença, eu já estou de retirada, e peço desculpas pelo incômodo.
Viro
de costas e já vou indo embora quando olho pra cima, e vejo a lua cheia brilhando
por entre aberturas entre os galhos.
_DESSA
VEZ VOCÊ NÃO VAI A LUGAR NENHUM_ Disse ele numa voz gutural
Isso
me faz olhar pra trás pra ver o que estava acontecendo, olho para o cara que
estava falando comigo e vejo ele se transformando numa espécie de lobo com pelos
meios castanhos, e um pouco maior que a média dos lobos.
“Pronto,
ferrou. O cara é um lobisomem”, pensei. Foi então comecei a maldizer o dia,
desejando não ter saído da cama. Eu estava paralisado de medo e não conseguia
me mover quando ele me olhou pra mim, vendo aqueles olhos amarelos brilhando,
os mesmo que vi anteriormente na fuga. Senti um frio subindo por minha espinha
dorsal, e não sabia se corria ou não. Uma pergunta estúpida eu creio, porque
minhas pernas não se moviam.
Então
ele avançou pra cima de mim, me derrubando no chão coberto de folha e galhos
secos, com suas imensas patas no meu peito, interrompendo minha respiração, e
sua baba pingando no meu rosto, escorrendo de seus dentes salientes. Luto para me
levantar, mas sem sucesso. Esse bicho deve pesar quase uma tonelada. Olho nos
seus olhos amarelos, e vejo um vislumbre de um sorriso malicioso. Fecho os
olhos e começo a chorar em parte por medo, em parte pela lembrança da minha
família. Eu espero pela dentada no meu pescoço, ou no meu rosto, ou em qual
quer outra parte do corpo. Mas ela não vem.
Nem
sei por quanto tempo eu fiquei de olhos fechados, mas só abri quando percebi
que a pressão no meu peito já não mais existia. Me vejo naquela estranha
biblioteca de novo. Acordo deitado no chão (se bem que não sei bem se estava
sonhando mesmo), sentindo um medo terrível, o coração batendo como um tambor de
escola de samba. Levanto-me e quando olho para a porta da biblioteca, vejo o
lobisomem de novo, mas na forma humana, em pé com o mesmo sorriso malicioso de
antes. Ele corre em minha direção numa velocidade impressionante, e no meio da
corrida ele se transforma de novo. Fecho os olhos e grito, esperando o ataque,
mas de novo ele não acontece. Abro os olhos e me vejo de novo sentado à mesa, com
o livro aberto na minha frente, como se eu nunca tivesse saído de lá.
_UAU!!
_Exclamo, e começo a rir de êxtase.
Depois
que a tempestade hormonal no meu corpo cessou, peguei o livro, fui ate o
vendedor e mostrei pra ele, e eu pergunto:
_Senhor,
quanto custa esse?
Ele
pega o livro, e o analisa, com uma cara de “que livro é esse?”, e me diz:
_Nossa!
Eu quase tinha me esquecido desse livro! Faz anos e anos que ele está aqui, mas
ninguém se interessou por ele até agora. Bom, façamos o seguinte, já que ninguém
se interessou por ele além de você, pode levá-lo de graça. É óbvio que não
conseguir ganhar nada com um livro velho desse.
_É
sério mesmo, senhor? _Pergunto desconfiado, mas exultante.
_Nunca
falei tão sério em toda minha vida _ Disse-me ele sorrindo
Ele
embalou o livro numa sacola, e me deu. Agradeci e saí da loja. Não sei porque, mas
acho que esse último sorriso parecia dizer “graças a Deus eu me livrei disso”.
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NOTA DO AUTOR
*este idioma desconhecido chama-se hidse, o idioma falado entre os clãs de lobisomens
adaptado do sonho do leitor, Felipe André