BASEADO EM UM RELATO REAL
Era sexta-feira da paixão,
noite de lua cheia.
Eu estava lavando a louça quando
eles chegaram. Ouvi a porta batendo, e vi os dois na minha sala, ofegantes, quase
mudos com o terror estampado em seus rostos. O amigo do meu filho estava tão
branco que parecia como flor de algodão. Assim que eles se aclamaram, me
contaram a história toda, que vou descrevê-la para vocês.
O meu filho mais novo e um
amigo dele estavam voltando da casa de uma amiga deles. Já passava da meia
noite. E como toda mãe, lógico, eu estava muito preocupada.
Eu moro em uma pequena cidade
rural, onde há muitos mistérios. Nós
temos um grande celeiro rodeado por muito mato, e muitas árvores. O caminho de
volta para casa passava em frente a esse armazém.
Eles vieram conversando e brincando,
foi quando eles ouviram um barulho vindo das arvores. Crianças são seres curiosos por natureza,
então eles foram ver qual a razão do ruído. Atitude que os deixou arrependidos
pelo resto de suas vidas.
Meu filho foi o primeiro a se
embrenhar no mato. Ele foi avançando aos poucos, afastado os ramos de arbustos
do rosto, pé ante pé. O brilho refletido pela lua passava por entre os galhos
das árvores, iluminando aquela estranha figura. Parecia ser um homem. Sua
respiração estava ofegante, e ele estava encurvado, com os quatro membros no
chão, como se estivesse com dores.
_Ei moço, o senhor está bem? _
disse meu filho em voz baixa, enquanto se aproximava.
Esse “homem” se virou,
rapidamente. Foi quando meu filho viu aquilo. Tomado pela total paralisia de
seu corpo, não conseguia falar, nem se mexer, tamanho foi o seu terror.
Mas a criatura não fez nada. Parecia
que estava nos estágios finais da transformação.
Como o garoto demorou pra
voltar, seu amigo também foi ver o que estava acontecendo.
_E ai Lino, o que é? _Chamou
seu amigo, correndo atrás dele
Chegou lá, viu e começou a
gritar com aquela visão aterradora. Os gritos fizeram meu filho voltar a si. Instintivamente
eles saíram correndo de lá. Pense em dois caboclinhos que correram.
_Mas mãe, é verdade! Eu vi esse
bicho!
_me levem ate lá pra eu ver se
é verdade! _ Disse eu, rindo, de tão inverossímil que me era essa história. Devo
confessar, quase morri de tanto rir deles. Eles choravam de raiva de mim do
tanto que eu ri deles. Ora essa! Duas crianças, inocentes, cujas mentes
fantasiam coisas que não existem, eu achei que fosse a imaginação deles.
Eles não quiseram me levar. Um
tempo depois, começaram os rumores de que já houve muitas pessoas aqui que já
viram este tal lobisomem... Só que é um mistério muito grande...
Foi então que fui tomada por um
misto de culpa e temor, por não ter dado crédito ao relato do meu filho, e talvez
tê-lo perdido. Ele poderia ter morrido! Foi
a mão de Deus que os poupou naquela noite.
Os boatos se espalharam, mas
não houve mais relatos a respeito. Talvez pelo fato da vizinhança ter sido
tomada pelo receio de sair à noite. Ninguém quis se arriscar pra ver se a
história é verdadeira.