Vitor tinha ido até o seu vizinho participar de um mutirão para
a construção de um celeiro. O tempo para concluir a tarefa acabou se alongando
mais que o esperado e a escuridão avançaram rápido. Terminado o serviço do dia
e depois de algumas conversas todos seguiram por caminhos diferentes rumo às
suas casas.
Era uma noite de lua cheia e apesar de sua luz ajudar a clarear
o caminho, criava sombras assustadoras na mata. Vitor caminhava por uma trilha
com um pequeno lampião na mão, que o ajudaria a avistar alguma cobra no
caminho, e um facão na outra mão para sua proteção. Como era uma região serrana
a neblina se formava lentamente tornando a paisagem mais fria e sinistra.
Acostumado com a vida da roça, Vitor caminhava indiferente à
situação, porém atento aos sons da mata. Quando estava próximo de casa escutou
um barulho não muito longe dele. Pareceu ser um rosnado. Se concentrou na sua
audição tentando adivinhar de que lado viria aqueles ruídos. O que poderia ser?
Talvez algum cachorro do mato. Acelerou seus passos e apertou o cabo do facão
para se sentir mais seguro. Novamente ouviu o rosnado de um bicho, desta vez
mais alto, era como se aquilo estivesse mais próximo. Continuou caminhando
quando avistou um vulto negro pular na trilha logo a sua frente. Como defesa
colocou as duas mãos para frente com o facão em posição ofensiva e o lampião
iluminando a criatura.
Viu algo que nunca havia visto antes. Uma espécie de cachorro
muito grande, sua boca se abria ameaçadoramente mostrando presas afiadas. O seu
corpo era coberto de pêlos negros e suas patas eram grandes como as de um urso.
A criatura babava, rosnava e avançava em sua direção. Vitor desceu o facão e
acertou a orelha do bicho que ganiu e recuou para a lateral da trilha. Os sons
que ela emanava pareciam ser coisa de outro mundo. Gemidos horríveis.
Recuperado do choque inicial, começou a correr pela trilha. Correu o mais que
pode até chegar em casa. Abriu a porta e a trancou procurando imediatamente
pelo rifle que possuía.
Sua esposa levantou e veio ver o que estava acontecendo. Ao
olhar para o seu marido viu o terror estampado em seus olhos. Perguntou o que
estava acontecendo e Vitor disse que uma coisa ruim havia cruzado o seu
caminho, mas que tinha lhe arrancado uma orelha. Lá fora, ao longe, ainda
ouvia-se os ganidos e rosnados. Ficou atento, próximo a porta dizendo que se a
criatura quisesse entrar iria estourar a sua cabeça. A mulher se agarrou a um
crucifixo e ajoelhada pôs-se a rezar. Aos poucos os ganidos cessaram e ao que
parece o bicho foi embora.
No dia seguinte Vitor e sua esposa foram até os seus vizinhos
perguntar se também haviam visto ou ouvido algo estranho na noite anterior e
para sua surpresa, encontraram um deles com um estranho curativo na região da
orelha… Parecia que um pedaço dela havia sido decepada. Rumores correram
dizendo que aquele velho solitário era um lobisomem.
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