domingo, 10 de julho de 2011

Ataque na fazenda

Era uma grande casa de madeira , de três andares, muito bem trabalhada, linda, tanto por dentro, como por fora. A noite estava bem tranqüila, coisa bem típica do interior, e o céu estava limpo, mostrando uma lua cheia, grande e bonita. Havia três irmãos na sala de estar picando fumo, depois de um dia inteiro de trabalho na roça, tendo o seu merecido descanso. Os três estavam confortavelmente instalados em suas poltronas, uma para cada um. Eles haviam herdado essa casa de seus pais, já mortos, e faziam de tudo para deixá-la habitável. Mas esta vidinha pacata estava para ser mudada esta noite.

Gesmas, o mais velho dos irmãos pegou o jornal que havia lido hoje e mostrou a reportagem que dizia:

SUPOSTA APARIÇÃO DE LOBISOMEM NO CAMPO


_O que vocês acham disso?_ disse ele

_Isso a gente ouve desde criança, oras. _ disse Aldair, o mais novo.

_É mesmo! _disse Natanael._ Isso podia até assustar a gente quando criança, mas hoje não. Somos homens da roça, mas somos adultos.

_É isso mesmo. _concordou o mais velho, jogando o jornal num canto qualquer da casa.

Continuaram em silencio de novo. Depois de muito tempo, Gesmas e Natanael estavam de olhos fechados, relaxando. Aldair percebeu algo estranho na atmosfera do lugar. Estava tudo muito quieto. Mas o que estava estranho, sendo que sempre foi assim? Ele tentou fazer o mesmo que seus irmãos, fechar os olhos e relaxar, para ver se afastava esse mau pensamento. Ele conhecia uma técnica de meditação, em que consistia em se concentrar no som da natureza. Foi isso o que ele fez. E tratou de colocar os pensamentos em ordem. Pôde perceber eu estava nervoso. Com o que? Não, estava com medo. Mas por quê? A notícia. Sim, era a noticia que viram no jornal. Isso fez lembrar-se de sua infância. Mais precisamente da morte de seus pais. Os três nunca chegaram a ver os corpos de seus pais. Os boatos eram que haviam sido dilacerados por um animal feroz. As más línguas diziam que era um lobisomem. Foi isso o que os atormentou durante o resto de suas vidas. Mas, aos poucos, eles foram crescendo, e superando esse triste fato, pois o laudo do legista alegava um ataque de animal. Havia muitas onças no local, então aos poucos eles foram aceitando esse fato como verdade. Era isso que atormentava a mente de Aldair. Assim sendo, pôde perceber que era um medo infundado. Era só isso. Tentou relaxar agora ouvindo os sons noturnos. Mas espere um pouco! Que som? Onde estavam os grilos, os pássaros noturnos? Era isso que estava estranho: Não havia animais! Não havia barulho!

_Ei, acordem!

_Não estamos dormindo _disse o mais velho

_O que houve irmãozinho?_ disse Natanael

Não houve tempo de responder. No mesmo ato em que Natanael completou sua sentença, ouviram-se disparos, e depois os gritos desesperados do capataz lá fora, acompanhados de urros monstruosos.

_Macário!_ Gritaram os três. Macário era o capataz da família a anos

Houve um silêncio repentino de novo. Gesmas foi olhar lá fora pela janela, e pode ver que saia de cima do corpo do capataz uma forma escura, grande. Pensou ser um animal por causa do pelos.

_Oh meu Deus!_ Exclamou._ O Macário está morto!

_Como assim morto?_ disse Natanael

_Por que a-a-a a ca-cabeça de-dele... está a-a aqui... embaixo da janela! O pânico de Gesmas era evidente

Ouviram-se passos no assoalho da frente da casa. Eram passos de alguém ou algo muito pesado. Depois silencio.

_Gesmas?_Perguntou Aldair

_O quê

_O que você viu?

Os três irmãos ficaram quietos, se entreolhando com olhos esbugalhados. Mais passos, mas dessa vez no mato que rodeava a casa.

_Está rondando a casa_ sussurrou Natanael.

Gesmas conseguiu se recompor e disse:

_Eu estou pensando: e se o que matou nossos pais não foi uma onça?

_O que você quer dizer?

_E se foi... Um lobisomem? 

Fantasmas do passado voltam a rondar suas mentes nesse momento. Não houve tempo para a sua resposta. Natanael estava de costas para janela, quando ela se quebrou por causa de um golpe de um braço peludo com garras. Foi pego pelo pescoço, a jugular foi perfurada, fazendo o sangue jorrar, e foi puxado para trás, mas não foi levado para fora, de forma que o ataque foi feito ali na janela mesmo. Seus irmãos ficaram atônitos, sem saber se gritavam de medo.

Gesmas, recuperado do pânico, heroicamente correu para a parede onde estava guardada uma espingarda. Com a coronha quebrou a caixa de munição que estava em cima da mesa. Carregou-a com rapidez espantosa, pois já estava acostumado a manipular armas. Mas não foi o suficiente; quando fez a pontaria, a criatura já tinha soltado Natanael. O corpo já sem vida caiu como um saco de areia para dentro da casa. O pescoço estava totalmente dilacerado, e o que antes era o seu rosto, agora nada mais era do que uma massa uniforme, coberta de sangue. Gesmas ainda pôde vislumbrar os olhos amarelos da criatura pela janela, antes dela correr. Não houve tempo para realizar nenhum disparo.

_A porta!_ Gritou Gesmas

A porta de entrada era a mais simples de todas. De madeira com um trinco, também de madeira. O que aconteceu a seguir foi muito rápido, mas é como se demorasse uma eternidade. Como se o lobisomem tivesse ouvido, a porta foi escancarada estrepitosamente. O Lobisomem caiu dentro da sala sobre os quatro membros, e se ergueu em seguida, sobre os dois pés, assumindo assim uma postura ereta. Seu pelos eram negros, olhos amarelos, dentes e pêlos com sangue ainda pingando. A primeira vítima seria Gesmas, pelo simples fato dele estar portando a arma, ou seja, instinto de sobrevivência. Gesmas por fim disparou quando a criatura avançou, mas a arma falhou, devido a não ser usada há muito tempo. 

A criatura avançou com os dois braços para frente, querendo agarrar a vítima. Os dois caíram. Gesmas usou a arma como escudo contra a bocarra aberta do lobisomem, porém suas garras penetraram os braços de Gesmas, fazendo furos profundos. Não havia como se defender. O lobisomem era muito pesado, e estava segurando os dois braços de Gesmas. Sem falar dos ferimentos que, de tanta dor, entorpeciam os movimentos. A criatura abocanhou a arma e a jogou para longe, e finalizou seu serviço ali.

Só restou Aldair. Estava tão assustado que seus instintos de sobrevivência o fizeram correr lá para fora, enquanto seu irmão gritava de dor e de medo, fugindo para longe do perigo, não se importando com seu irmão que morria. 

Mas a criatura percebeu os movimentos dele. O lobisomem então tratou de ser rápido no ataque para não deixar esse sobrevivente. Ele pegou a cabeça de Gesmas entre seus dentes, com força descomunal, de forma que o crânio ficou fraturado. Certificou que os dentes estavam bem firmados, então num movimento rápido, Gesmas ficou privado de sua cabeça, dando fim ao seu sofrimento. Não havia tempo para devorar essas carnes, havia uma presa que estava fugindo, e se conseguisse, chamaria ajuda para caçar essa besta que estava aterrorizando a fazenda, dando fim à sua vida de destruição. De quatro como estava, deu meia volta, e se pôs a galopar porta afora. 

Aldair corria a esmo, o máximo que suas pernas trêmulas permitiam, com a fera bufando atrás. Partia numa corrida cega, sem se importar aonde chegaria, apenas queria estar a salvo. Tanto é que nem enxergou o barranco ao seu lado e, para ajudar, havia muitas nuvens de uma frente fria que estava chegando, e que começavam a encobrir a luz lunar, fazendo as sombras das árvores centenárias aumentarem. Como estava com o andar já meio trôpego pelo cansaço, tropeçou numa pedra e saiu rolando pelo morro abaixo no momento em que a criatura deu o bote, fazendo-a passar por cima dele. Durante a queda, bateu a cabeça em algo muito duro, talvez uma pedra pontiaguda, ou uma raiz, o que causou um corte em seu supercílio, fazendo-o ficar mais desnorteado ainda

Finalmente a queda chega ao fim. Já no chão, caído de bruços, gemendo num misto de dor e tontura, e ofegante de cansaço, Aldair levanta a cabeça lentamente, e consegue discernir a criatura caindo sobre os quatro membros à sua frente. As nuvens conseguem encobrir a Lua totalmente agora. Apesar da fraca luminosidade pôde ver que a silhueta estava diminuindo. Pôde ouvir também som semelhante a ossos se quebrando. A criatura se contorcia no chão. Os grunhidos se transformam em gemidos, os pelos somem, e a cabeça canina agora é uma cabeça humana. Este homem se levanta ofegante, e nu, e se dirige a Aldair.

_Ah, filho, como você cresceu!

Aldair estava confuso. Filho? Essa voz era muito familiar. 

_Pai...?!_ disse Aldair espantado

_Oh! Você me reconheceu

Neste momento a chuva começa, quebrando com o silencio quase macabro da noite. Começa discretamente, mas em questão de segundos, torna-se barulhenta. Como a Lua estava encoberta, a penumbra era total, então não se podia ver nada. Somente o pai de Aldair podia vê-lo, afinal, era uma criatura da noite.

O pai de Aldair se aproximou, e se acocorou na frente do filho, que ainda estava deitado, apenas com a cabeça erguida. Ele disse:

_ Vejo que está surpreso em me ver. Ora, isso é jeito de receber o seu pai?

Estava encenando. Ele soltou uma risada maquiavélica

_Não pode ser! Você está morto!

Aldair se levanta por fim, todo enlameado, apesar de estar ainda meio tonto.

_Deveria, Mas não estou. Dizem que ser um lobisomem é uma maldição. Mas eu acho diferente: acho que isso é um dom. A sensação de poder é incrível! Você é imortal, e tudo está sujeito aos seus pés! É muito boa a sensação de sentir o medo fluindo da sua presa.

_Pra trás de mim seu monstro! Você não é meu pai! Meu pai morreu quando eu ainda era pequeno!

Aldair se dirigia à direção de onde vinha a voz, porque não conseguia ver um palmo à sua frente.

_Ah! Você está me magoando deste jeito. _Ele pôs uma das mãos no rosto do filho._Não vai querer magoar um lobisomem vai?_ Mais uma risada diabólica, Aldair Foi invadido de um medo paralisante ao sentir o toque desta mão, quase que sentindo o poder das trevas contidas em seu pai_ Quer saber, eu vou te contar a verdade. De fato, foi um lobisomem que nos atacou aquela noite. Na mesma sala em que visitei vocês hoje. Primeiro foi a sua mãe. A coitada não teve chance. Consegui matá-lo estourando a cabeça dele com o rifle, mas não sem antes de ser atacado. Ele brincou comigo, me jogando como uma bola de ping-pong, me mordendo e me arranhando. Ele estava se divertindo comigo. Por sorte ele me jogou na parede onde estava o rifle. Como era de madeira, ela tremeu e a arma caiu em cima e mim. Peguei a munição que caiu do lado e carreguei a arma e disparei antes que viesse pra cima de mim. A partir desse dia comecei a vagar em busca de vitimas que pudessem saciar a minha fome.

A chuva começa a dar uma trégua. As nuvens diminuem em quantidade, e a Lua volta a aparecer. Os poucos raios lunares não foram suficientes para a transformação, porém, Aldair pôde ver os contornos do rosto de seu pai, por um breve momento. Estava do jeito como ele se lembrava, ainda jovem.

A luminosidade estava de volta. O pai de Aldair não havia tirado a mão do rosto dele. A transformação começa. Primeiro, as garras crescem penetrando o seu rosto, fazendo Aldair gritar de dor, os olhos ficam amarelos, e os dentes crescem. Depois os pêlos crescem, e os músculos se contorcem. Aldair foi jogado no chão com força.

O grito que ele deu foi o mais alto de sua vida. Mas eles moravam muito afastados da civilização, de modo que seu grito foi ouvido pelos animais noturnos

Dias depois, o jornal da cidade relatava morte brutal de três irmãos agricultores de uma fazenda distante, seus corpos dilacerados e semi devorados, já em estado de decomposição, tudo a partir de um relato de um comerciante que passava no local, com o fim de negociar. Ele viu os corpos, chamou a policia, e logo viraram história. A imprendsa foi chamada, os boatos começaram se tornar mais freqüentes. A propriedade passou a ser assombrada todas as noites pelas visitas do lobisomem a partir desse dia.

Fim

Sonhos Lupinos


Muita gente não vai gostar dessa história. Mas não é bem, uma história, mas sim um sonho que tive, e eu gostaria de compartilhar essa experiência com você leitor (a). Alguns pontos podem parecer meio confusos, como é característico de sonhos, o que pode tornar a leitura não muito satisfatória.

Nessa noite, sonhei o seguinte:
Havia um morro coberto de grama e folhas secas, muita neblina, bastante densa. Conforme se caminhava por ela, ela se movia, tal como quando um navio passa, e deixa um rastro na na água, de espirais e ondas. O interessante era que só havia neblina na parte baixa do morro. No alto dele, havia uma cabana de madeira. Eu me dirigia para ela. Eu mal cheguei, a porta se abriu, e veio ao meu encontro um homem vestido com um sobretudo parecido com o meu.
_Você trouxe a chave? _ disse eu
_Sim
Ele pegou do bolso externo uma chave automotiva. Mas ele me advertiu:
_Acho melhor você se apressar. Ele está aqui!
No mesmo instante ele correu de volta para a cabana, e comecei a ouvir rosnados muito altos. Meu coração começou a palpitar descontroladamente. Saí correndo pelo morro, praticamente aos trancos e barrancos. As leis da física me ajudaram a ganhar velocidade, meu sobretudo esvoaçando ao vento.
De repente me vi na casa da minha avó, que aliás, estava vazia. Comecei a trancar todas as portas desesperadamente, para me dar uma sensação de segurança.
Na sala de estar, a porta de entrada, era de ferro e vidro, com uma armação que permitia abrir a porta de vidro tal como se fosse uma janela. O vidro era todo desenhado, de forma que a visão externa ficava turva, mas dava para ter uma ideia do que acontecia do outro lado. Me certifiquei de que todas as portas estavam trancas, me dirigi para essa porta. Olhei para fora, para os dois lados, porém o mal estava na minha frente.Eu pude ver uma sombra se erguendo, que se tornou um vulto enorme, e apesar da fraca luminosidade lá fora, pude perceber os detalhes da criatura. Muitos músculos, pêlos bastos, e orelhas pontiagudas. O lobisomem ergueu o braço lentamente, e golpeou a porta. O vidro se estilhaçou em muitos pedaços, pairando no ar como diamantes, e sumindo em seguida. Ao mesmo tempo, a porta caía em cima de mim lentamente, como se não hovessem dobradiças, e estive apoiada em algo. consegui segura-la e po-la de lado. quando aguardava o ataque final do lobisomem, o sonho acabou. Acordei dando graças a Deus por ter apenas um sonho.