segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O Estranho Livro Dos Lobisomens






O sol estava brilhando intensamente em um belíssimo céu azul sem nuvens. Era de manhã e o calor estava intenso 
Eu estava passeando numa rua onde havia muitas lojas, e, portanto o comércio era abundante. Parei pra olhar algumas, simplesmente para passar o tempo, até que vejo uma lojinha que vendia antiguidades de todo o tipo; espadas, porcelanas, joias, documentos... Entrei na loja procurando algo que eu achasse interessante, por puro acaso. Era a primeira vez que estava nessa cidade, então tratei de conhecer logo todos os lugares possíveis. A loja era grande, com três andares. E cada andar, estava repleto de estantes e prateleiras. Eu vejo o vendedor da loja, um senhor gordo, de barba escura, com cara de bravo, mas ainda sim, com um jeito super gentil, e então eu pergunto:
_ Senhor, há livros antigos nessa loja?
_Sim, meu jovem _ Disse-me ele, mostrando um convidativo sorriso, cheio de dentes brancos _ no segundo andar. Por favor, me acompanhe.
Fomos até as escadas no fim do cômodo, subimos, e ele me mostrou onde fica a seção de livros
_O que mais deseja?_ indagou com seu jeito simpático de ser.
_Nada, só isso mesmo. Obrigado _ respondi, de bom humor. Mas que alegria contagiante a desse homem!
_Então tudo bem. Vou voltar lá pra baixo. Caso queira algo mais, não hesite em me chamar
Ele se foi, e fui deixado à vontade. E fiquei lá durante horas! Como amante dos livros que sou, senti-me como em um parque de diversões, com todo aquele acervo.
Segui pelas prateleiras empoeiradas, olhando cada livro, tirando o pó deles, apreciando as capas, ate que pego um com um símbolo de lobo, e em baixo do símbolo estava escrito LOBISOMEM.
Então peguei o livro, que por sinal estava cheio de poeira. Era um volume muito grande e pesado, grosso, e de capa dura. Fui caminhando pelo imenso até encontrar um lugar para ler o livro. Deparo-me com algumas poltronas acolchoadas, e boa iluminação. Perfeito! Um lugar perfeitamente adaptado para o caso de alguém ler por lá! Que loja maravilhosa!
Quando começo a folhear as páginas, observo os desenhos estranhos de lobos, e de alguns humanos também. Os textos estavam em outra língua que não sei dizer como era. Os caracteres eram de um idioma que nunca vi antes*. Não entendi nada do que estava escrito, mas as figuras eram bem interessantes. Conforme fui folheando o livro, os caracteres pareciam saltar à minha vista. E estavam realmente saltando aos meus olhos! Mais que isso, eles estavam rodopiando ao meu redor!
Então o inexplicável acontece: o clima na sala começa a mudar. Começa a soprar uma brisa leve, como se eu estivesse do lado de fora. Minha cabeça começa a rodar, e do nada, quando tudo para de rodar, percebo que estou em outro lugar. Como diabos eu fui parar ali? E onde estava o livro?
Eu estava numa estrada fora da cidade onde eu estava anteriormente. Essa estrada se bifurcava em duas. Uma levava pra cidade e a outra ia pra uma floresta, então fui pra floresta e pelo jeito ainda era de manha.
Conforme vou adentrando pela floresta, percebo que a claridade vai diminuindo, de tão espessa que é a vegetação. Foi aí que pensei: que merda que eu fiz? Resolvo voltar, mas daí eu percebo que perdi a trilha! E outra: a floresta já é escura. Então percebo que as sombras estão aumentando. Ou seja, está anoitecendo.
Ah ótimo! Estou perdido, e ainda percebo que está ficando de noite. É quando ouço a vegetação se movendo atrás de mim. Eu me viro num sobressalto, e vejo um vulto passar pelas sombras, e depois escuto um uivo. Certamente era um lobo me caçando. Ainda tive um vislumbre de dois pontos amarelados por entre as sombras. Não pensei duas vezes e comecei a correr instintivamente a esmo pela floresta, esbarrando em uma árvore a cada passo, de tão densa que era a floresta. Só paro quando vejo que não tinha mais nenhum sinal da coisa que estava me seguindo.
 Ofegante, me apoio numa arvore. Mas ainda sinto que estou sendo observado. Viro-me pra trás e vejo um vulto de uma pessoa parada. Não sei por que raios eu fui até essa pessoa. Acho que talvez eu tenha tido alguma esperança dessa “pessoa” me tirar daqui. E quando chego perto essa pessoa começou a me dizer:
_Você até que corre depressa.
Essa voz não parecia amistosa. Parecia como se ele estivesse me dando uma bronca.
_O que acha que está fazendo aqui? _Continuou ele, elevando a voz_ Como ousa invadir meu território de caça, e perturbar minha paz?!
Estava muito escuro. Não vi o rosto desse homem, nem sabia o que estava ele vestindo.
_Eerr... _balbucio. Nessa altura eu já estava quase molhando minhas calças _ Me desculpe senhor, se me der licença, eu já estou de retirada, e peço desculpas pelo incômodo.
Viro de costas e já vou indo embora quando olho pra cima, e vejo a lua cheia brilhando por entre aberturas entre os galhos.
_DESSA VEZ VOCÊ NÃO VAI A LUGAR NENHUM_ Disse ele numa voz gutural
Isso me faz olhar pra trás pra ver o que estava acontecendo, olho para o cara que estava falando comigo e vejo ele se transformando numa espécie de lobo com pelos meios castanhos, e um pouco maior que a média dos lobos.
“Pronto, ferrou. O cara é um lobisomem”, pensei. Foi então comecei a maldizer o dia, desejando não ter saído da cama. Eu estava paralisado de medo e não conseguia me mover quando ele me olhou pra mim, vendo aqueles olhos amarelos brilhando, os mesmo que vi anteriormente na fuga. Senti um frio subindo por minha espinha dorsal, e não sabia se corria ou não. Uma pergunta estúpida eu creio, porque minhas pernas não se moviam.
Então ele avançou pra cima de mim, me derrubando no chão coberto de folha e galhos secos, com suas imensas patas no meu peito, interrompendo minha respiração, e sua baba pingando no meu rosto, escorrendo de seus dentes salientes. Luto para me levantar, mas sem sucesso. Esse bicho deve pesar quase uma tonelada. Olho nos seus olhos amarelos, e vejo um vislumbre de um sorriso malicioso. Fecho os olhos e começo a chorar em parte por medo, em parte pela lembrança da minha família. Eu espero pela dentada no meu pescoço, ou no meu rosto, ou em qual quer outra parte do corpo. Mas ela não vem.
Nem sei por quanto tempo eu fiquei de olhos fechados, mas só abri quando percebi que a pressão no meu peito já não mais existia. Me vejo naquela estranha biblioteca de novo. Acordo deitado no chão (se bem que não sei bem se estava sonhando mesmo), sentindo um medo terrível, o coração batendo como um tambor de escola de samba. Levanto-me e quando olho para a porta da biblioteca, vejo o lobisomem de novo, mas na forma humana, em pé com o mesmo sorriso malicioso de antes. Ele corre em minha direção numa velocidade impressionante, e no meio da corrida ele se transforma de novo. Fecho os olhos e grito, esperando o ataque, mas de novo ele não acontece. Abro os olhos e me vejo de novo sentado à mesa, com o livro aberto na minha frente, como se eu nunca tivesse saído de lá.
_UAU!! _Exclamo, e começo a rir de êxtase.
Depois que a tempestade hormonal no meu corpo cessou, peguei o livro, fui ate o vendedor e mostrei pra ele, e eu pergunto:
_Senhor, quanto custa esse?
Ele pega o livro, e o analisa, com uma cara de “que livro é esse?”, e me diz:
_Nossa! Eu quase tinha me esquecido desse livro! Faz anos e anos que ele está aqui, mas ninguém se interessou por ele até agora. Bom, façamos o seguinte, já que ninguém se interessou por ele além de você, pode levá-lo de graça. É óbvio que não conseguir ganhar nada com um livro velho desse.
_É sério mesmo, senhor? _Pergunto desconfiado, mas exultante.
_Nunca falei tão sério em toda minha vida _ Disse-me ele sorrindo
Ele embalou o livro numa sacola, e me deu. Agradeci e saí da loja. Não sei porque, mas acho que esse último sorriso parecia dizer “graças a Deus eu me livrei disso”.


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NOTA DO AUTOR
*este idioma desconhecido chama-se hidse, o idioma falado entre os clãs de lobisomens

adaptado do sonho do leitor, Felipe André